Café Majestic

Café Majestic


By Maragato1976 - Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=16714621

O esplendor da "Belle Époque"

O Café Majestic de traça ideada pelo arquitecto João Queiróz, inspirada na obra do seu mestre Marques da Silva, permanece ainda hoje como um dos mais belos e representativos exemplares de Arte Nova na cidade do Porto. O edifício, fundeado em 1916 no ângulo formado pelas ruas de Santa Catarina e Passos Manuel, previa, na memória descritiva da sua reconstrução, a existência de estabelecimentos virados para a rua pedonal.

A imponente fachada em mármore, dornada com aspectos vegetalistas de formas sinuosas, reflecte o bom estilo decorativista da altura. Um trio de elegantes portadas marca a frontaria, limitada por uma secção rectangular, rasgada em vidro. No topo um frontão coroa a composição com as iniciais do Majestic. Ladeiam-no duas representações de crianças que, divertidas, convidam o transeunte a entrar.

Dentro do estabelecimento, de planta rectangular, reina a linguagem Arte Nova. A simetria curvilínea das molduras em madeira e os pormenores decorativos cativam a observação. Grandes espelhos riscados pela idade, intercalados por candeeiros em metal trabalhado, delimitam as paredes num inteligente jogo óptico de amplitude, que lhe dá uma dimensão maior que a real.

Esculturas em estuque, representando rostos humanos, figuras desnudas e florões, confirmam o gosto ondulante e sensual, enquanto duas linhas de bancos em couro gravado, substituindo os originais em veludo vermelho, criam, em termos de perspectiva, uma sensação de profundidade e elegante aconchego.

 

Photo by Maragato1976 - Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=16714622


O recorte sinuoso dos caixilhos da espelharia, a luminosidade dos candeeiros, os detalhes em mármore e os bustos sorridentes que se estendem das paredes ao tecto, conferem-lhe ambiência dourada e confortável, incitando ao repouso e à conversa amena. O Café Majestic emana uma atmosfera de luxo, requinte e bem-estar.

O pátio interior, construído em 1925, é um recanto de contornos delicados, com escada e balaustrada de pequenas dimensões, arquitectado como se de um jardim de Inverno se tratasse. Sob a direcção do mestre Pedro Mendes da Silva, este espaço simboliza uma nova era do Café Majestic. A construção do bar e da ligação ao café por meio de uma escadaria, permitiu abrir uma nova frente, a da rua Passos Manuel, "...onde será posto à venda vinho do Porto. Para isso, escolheu-se o estilo regional da nossa arquitectura, não só para a construção do bar, mas também para a vedação do muro".

A nova fachada foi subsequentemente idealizada e executada seguindo moldes diferentes dos adoptados para o interior. Se este é ao gosto internacional, o novo espaço, não o renegando apresenta um estilo mais rústico, manifestando o que mais tarde Raul Lino designou por casa portuguesa.

Nesse mesmo ano o Majestic cumpre singularmente a função plural de satisfazer todos os desejos da clientela. Volta a chamar o arquitecto João Queiróz, agora para abrir uma modesta mas graciosa janela no muro remodelado, virada para a rua Passos Manuel, onde passará a vender tabaco e rapé à população. Um ano depois, em 1926, o espaço é ampliado e cedido à exploração da firma Tinoco & Irmãos, construindo uma "pequena cabina (…) para servir de tabacaria".

Auspícios de novos tempos e hábitos surgem em 1927, através da ampliação do bar com vista ao "serviço e fornecimento de cerveja para o terraço ali já existente". O espaço, como o vemos, apresenta-se evolutivo. De uma formulação mais depurada e arquitectural à entrada, motivada pelas raízes Beaux Arts do arquitecto, ao aproximarmo-nos do jardim passamos por um decorativismo colmatador das estruturas arquitectónicas, terminando no portal jónico de ligação ao exterior, com grandes volutas transparentes e sensuais, tipicamente Art Nouveau, insinuando as esculturas femininas que vislumbramos no exterior. Esse, verdejante e luminoso, serve actualmente para a dinamização de concertos durante o Verão, pelo que se tornou no terceiro centro cultural do Majestic, a rivalizar com o piano de cauda no interior e com as inúmeras exposições de pintura a acontecer no piso inferior, outrora votado ao jogo de bilhar.

Sob a égide dos Barrias, em 1992, o café foi encerrado para a execução de um projecto de recuperação que ficou a cargo da arquitecta Teresa Mano Mendes Pacheco.

Em 1994, depois da substituição do pavimento interior e da reposição do mobiliário original, o Majestic foi reaberto. Fotografias encontradas por Fernando Barrias permitiram conservar a alma do local, transportando, com sensibilidade, um passado luminoso para o presente.

Os inúmeros prémios e o reconhecimento internacional - "Prémio Especial de Café Creme" (1999), "Medalha de Prata de Mérito Turístico" (2000), "Medalha de Prata de Mérito Municipal - Porto" (2006), "Certificado do Prémio Mercúrio - O melhor do Comércio na área das empresas na categoria Lojas com História" (2011) e "Medalha Municipal Mérito - Grau Ouro" (2011), classificado pelo site cityguides como o sexto café mais belo do mundo e o Certificado de Excelência da TripAdvisor - surgiram com naturalidade, devolvendo-lhe, finalmente, a justa notoriedade que, durante tantos anos, havia sido esquecida.

 



"Es un maravilloso lugar el Café Majestic, donde musas, pensadores y artistas se pueden reunir para vivir los mejores momentos que nos da la vida, de sencilla convivencia en la comunicación de la palabra y de los gestos, las miradas, las sonrisas y a veces las lágrimas."

Gloria Montenegro (Presidente da Academia de Cafeologia de Paris)


Fonte: cafemagestic.com